O gesto partiu de uma mulher chamada Celeste Caeiro, empregada de mesa num restaurante que, nesse dia, fechou portas por causa da revolução que se desenrolava nas ruas. O restaurante tinha cravos para distribuir aos clientes em comemoração do seu aniversário. Com as portas encerradas e os cravos nas mãos, Celeste decidiu oferecê-los aos soldados. Eles, em vez de os rejeitarem, colocaram-nos nas espingardas. E assim nasceu o símbolo pacífico da revolução — o cravo vermelho, hoje inseparável do 25 de Abril.
Nas horas e dias que se seguiram, o país transbordou em euforia, emoção e, claro, incerteza. Mas para muitos, sobretudo os que viveram em silêncio durante anos, foi o primeiro verdadeiro sopro de liberdade.
E na Madeira? Também ali a mudança foi sentida. Embora geograficamente distante do coração da revolução, a ilha não ficou indiferente. As notícias chegaram pelo rádio, pela televisão, pelas vozes que passavam de boca em boca. A população madeirense, que também sofrera com as restrições impostas pelo regime, começou a sentir, ainda que aos poucos, o vento da mudança.
Pouco depois do 25 de Abril, surgiram as primeiras manifestações políticas na ilha. Ganhou força a luta pela autonomia — uma forma de garantir que o povo madeirense pudesse também decidir o seu futuro, gerir os seus recursos, valorizar a sua identidade. Em 1976, essa autonomia foi finalmente reconhecida, com a criação da Região Autónoma da Madeira, dotada de um governo próprio.
É fácil esquecer, passados tantos anos, o que custou chegar até aqui. Por isso, o 25 de Abril não é só uma comemoração — é um lembrete. Um apelo à memória e à vigilância. Porque a liberdade não cai do céu, nem se mantém sozinha. Conquista-se. Cuida-se. Reafirma-se.
Neste dia, seja no coração de Lisboa ou com vista para o Atlântico, que cada cravo vermelho nos lembre de Celeste, dos soldados, dos cidadãos anónimos, dos que sonharam e dos que agiram. Que nos lembre que o silêncio imposto foi quebrado por vozes unidas. E que, na Madeira como no continente, a liberdade chegou… e deve continuar a florescer.
c.e.ai